Formação permanente... O labirinto e a liberdade
E
novamente estou numa sala de aula.
Aluna agora. De novo...
Apareceu
uma oportunidade de fazer uma pós-graduação/especialização e cá estou eu as
voltas com aulas, leituras, livros, artigos, resenhas. Desta vez estou indo
para outros rumos. A especialização é em Metodologia do Ensino Superior.
A
primeira disciplina já "venci"... rsrrsrs.
E
aqui vai minha primeira resenha crítica ... E já me rendeu elogios do
professor! Tá pensando o que?
Resenha crítica do
texto: Sala de
Aula: Da angústia de Labirinto à Fundação da Liberdade. *
Autor: Newton Aquiles von Zuben
1. Dados do Autor
Newton Aquiles von Zuben
- Doutor em Filosofia -
Université de Louvain; Professor Titular
- Faculdade de Educação da UNICAMP
- e-mail: navzuben@obelix.unicamp.br
.
2. Resenha
Estava aqui tentando produzir minha primeira resenha. E
escolhi para fazer primeiro, o texto de que mais gostei: “Sala de Aula: Da angústia de Labirinto à Fundação da Liberdade...” e
boto aqui reticências no título porque a angústia parece não acabar nunca!
E para começar uma resenha a gente lê. Claro! Depois lê de
novo. E lê novamente. E então vai enxergando ali coisas que vão além das
palavras, frases, linhas e até das entrelinhas! E começa a grifar as idéias
mais contundentes, aquilo que se considera mais importante de se destacar, o
que merece uma reflexão mais acurada, o que passa despercebido ao primeiro,
segundo olhar e, talvez, até do terceiro olhar... Ah, mas, e quando depois da
terceira olhada a gente vê que grifou tudo e não tem como resumir nada?
Para resenhar o texto de Zuben, é preciso então, começar
contando uma história. Nada se compara a contar uma história lembrando de
outra. O autor faz isso lembrando a percepção de que nem sempre a felicidade
está ali, na primeira “cavoucada”, como conta Walter Benjamim. Pode-se cavar
muito e descobrir que nem precisava... a coisa estava ali, saltando da terra
aos nossos olhos. Nem é preciso dizer quantas e quantas vezes a gente tropeça
na verdade e prefere seguir em frente em busca daquilo que não passa de
vaidade...
E aquela pretensão do autor de que não vai “construir uma teoria sobre a educação formal...”;
acabou por construir em mim uma teoria mais do que séria. Ele busca “pistas para pensar” a sala de aula longe
de pesquisas formais e do rigor de experiências e teses acadêmicas. Ele diz
estar nos convidando a “deixar de lado preconceitos”
para descobrir aquilo que nos passou despercebidos até hoje: o quanto o
conceito de “sala de aula”, “antiqüíssimo
e quadrado” como diz ele, pode ser visto de mil e outras formas.
E, destas tantas formas de olhar, surge a “minha” história
de “sala de aula”. Desenterrando o “tesouro” que lá encontrei. Sim, tesouro com
certeza! Von Zuben não sabe o favor que me fez ao escrever este texto! Ele
resgatou para mim uma sala de aula sem paredes, sem balizas, sem fronteiras e
que, se um dia foi labirinto, eu o atravessei rindo e encontrando a liberdade a
cada virar de esquina. Talvez porque tenha tido a sorte de contar com bons
mediadores ou por ser daquelas pessoas
que os procura sem usar uma pá...
A sala de aula é um evento pelo qual todos passam e que;
como bem lembrou várias vezes, o professor da disciplina; aonde todos se
encontram. Porque aqui não estamos considerando na pauta, nossos analfabetos e
excluídos. Não neste terceiro milênio onde o próprio mundo já não tem
fronteiras! Vamos ser poéticos e acreditar que, bem ou mal, todos um dia entram
numa sala de aula.
E vamos encontrar a primeira das grandes eloquências do
texto: “Sala de aula: para muitos, espaço
geométrico onde se faz de conta que se ensina aquele que imagina que está
aprendendo alguma coisa... jogo de máscaras! Papéis, papéis, papéis.” E o
quanto isso passa pela verdade de muitos! Quem já não se prestou ao “papel” de
aluno lendo somente as “falas do texto”? Ou pior e arrepiante: encenou
magistralmente o “papel” de professor lendo um “script” sem possibilidade
alguma de improviso ou mudança de texto? Nem que fosse para aumentar o
público...
Eu não sei bem se na “minha” história alguém chegou a “pensar o evento” além de maior
eficiência do ensino ou de resultados para satisfação de objetivos políticos e
metas. A questão é que tive alguns professores que não estavam ali “fazendo de
conta” que ensinavam. E que, nessa sua atitude de, “talvez, quem sabe”, ver o
aluno na sua “teia de relações” e “na perspectiva ampla do existir de cada um”,
acabaram por construir um ser pensante. Olha só que coisa: na sala de aula onde
estive me ensinaram a “pensar
interpretando a realidade sem a preocupação com categorias de meios e fins”!
Que sala de aula é essa, afinal? Onde estive e onde estudei,
você vai me perguntar. E eu respondo: na mesma que muitos que não tiraram dela,
senão a idéia de que era “necessário” passar
por lá se quisesse ser de alguma valia para a sociedade. A diferença da
“minha” sala de aula seja, talvez, como ela foi pensada e vivida “por mim”.
E voltamos a pensar nos filhos que imaginavam o tesouro
enterrado no vinhedo, quando o “valor” estava em cultivar as uvas. E no quanto
o ensino é para uns “infusão de idéias
sobre as pessoas” ao invés de difusão de idéias, iniciativas, busca,
aventura de pensar o conhecimento... e não esperar recebê-lo ponto e acabado. E
aqui resgato o conceito de Paulo Freire de que aprender não é se fechar em respostas. Aprender
é “liberdade” de pensamento, liberdade de buscar contradição entre o que se tem
por certo e o que o outro diz certo, liberdade de resposta.
Antes de passar ao próximo conceito de sala de aula do
autor, abro espaço para contar aqui, da adolescente tímida e insegura que
chegou à escola com medo de atravessar aquela porta da temida “sala de aula”.
Que já não era mais a escola primária onde se ensinava o alfabeto e as
operações fundamentais da matemática. Era a temida “quinta série” lá pelo final
da década de 70.
Já não era mais uma
só professora. Eram oito! Com as
mais diferentes tarefas e os mais diferentes pontos e conceitos. Era o MUNDO da
ciência, da geografia, da história que se abria ali. E, pasme: da LITERATURA!
Mal posso me conter ao lembrar do primeiro livrinho que, emocionada, li como
que devorando as páginas. Ganymedes José; que me contava da vida sofrida (e
aborrecida, reconheço hoje!), que vivia Bentinho sonhando e ajudando a mãe a
vender doces; essa leitura me fez sonhar e “viajar” para além da sala de aula.
E aquele livro foi o primeiro de muitos e minha “sala de aula” nunca teve
“paredes”. E eu quis saber sempre mais. Não só de literatura, mas de ciência,
de geografia, de história, da vida... A escola me abriu novas perspectivas e novas situações. Ela me tirou do oco, do
vazio e me deu o que pensar! A sala de aula era um espaço que eu ansiava por
estar.
“Qual é o sentido
deste evento que ocorre no espaço e no tempo?” Von Zuben faz aqui uma comparação a
um “jogo de máscaras”, ao começo de uma longa aculturação patológica a que
todos estamos sujeitos durante quase um terço de nossas vidas. Também pergunta
se a sala de aula não seria um ambiente que nos violenta em nossa capacidade de
pensar, nos impondo informações, doutrinas e idéias utilitaristas. Seria a inexorável
dominação de uma geração sobre a outra? De uma classe sobre outra? De
indivíduos sobre outros? Aprendizado de submissão ao poder político, religioso,
ideológico, espaço de repressão? E quando todos estes sentimentos se mesclam,
vem a “angústia do labirinto”. A de se pensar que qualquer caminho que se
escolha, não vai levar a lugar algum. Que o labirinto em suas múltiplas
escolhas não lhe dá a direção certa e nem a garantia de que não se vá acabar
numa via sem saída. Ora, é no labirinto que aprendemos a conhecer nosso poder
político, religioso, ideológico... !
E comparo este labirinto, essa angústia, ao “pré”, ao
“antes” do saber proporcionado pela sala de aula. A sala de aula ideal é aquela
que te dá o “horizonte dos possíveis”
e te faz sair do “horizonte das
realidades”. Já não existem
“paredes” que isolem o indivíduo em um só espaço quando ele adentra a uma
destas salas de aula. Onde o professor não é um simples “disciplinador” que
apresenta limites de toda ordem, onde a sociedade e a cultura o levam a
carregar a pedra montanha acima e ao chegar lá a pedra rola de volta... A sala
de aula proporciona a liberdade! A liberdade de escolha, a liberdade de buscar
alternativas para empurrar de novo, reiniciar o processo e reconhecer as nossas
limitações pelo tamanho daquela pedra.
Sim, para esta adolescente tímida e insegura, a sala de aula
sempre representou o “horizonte dos possíveis”. O lugar do “encontro”, da
“discussão”, o amplo e irrestrito espaço para ser e fazer melhor... Ou, pelo
menos, diferente, se não pudesse ficar melhor...
E agora, se eu fosse fazer uma citação do nono parágrafo do
texto, eu o citaria INTEIRO! Não há como resumir todo o conceito de sala de
aula exposto ali. Algumas palavras chaves podem até ser citadas: espaço revolucionário, revolução constante,
pluralidade, novo conceito, diálogo, momento de liberdade... Mas, penso que
uma frase sintetiza os conceitos e ao mesmo tempo abre espaço para muitas
outras reflexões e pensares: “Antes da
razão o desejo, a emoção”. Nada de receitas para se viver a vida. Nada de
amarras ou imposição de limites a não ser aqueles que o próprio indivíduo
descobre em sua busca por “saber” e agir, conforme este saber lhe dá os
horizontes possíveis. E nessa busca vem
o princípio da alteridade, de que cada um é um e ao mesmo tempo depende do
outro. Não há o desejo de individualismo, mas a construção de balizas para a
ação de cada um no mundo, respeitando o espaço do outro, convivendo com o outro.
Para mudar o que a “máquina social” faz ao indivíduo nos
dias atuais, ou seja, “castrá-lo em sua capacidade de pensar e agir”, penso que
cada professor, na sua condição de mediador do conhecimento, deveria repensar
seu “papel”. Deixar de lado os roteiros escritos e passar a pensar
dialogicamente, re-elaborar o ensino, construindo o saber como “fundação da
liberdade”, que cada possibilidade de caminho no labirinto possa levar à
liberdade.
A sala de aula dos dias de hoje, que o autor descreve ao
final, com certeza não é mais a mesma que recebeu a menina tímida e insegura;
que a ensinou a pensar, a agir, construir. Não há mais diálogo, iniciativa,
desejo ou paixão nesta sala de aula... Ou será que ela sempre foi a mesma e a
menina é que é diferente?
Ângela Rocha
Referências:
* Publicado em obra coletiva:
MORAIS, Regis (org). Sala
de Aula. Que espaço é esse? 10ª ed. Editora Papirus, Campinas. Texto disponível em:
< http://www.fae.unicamp.br/vonzuben/salaaula.html> Acesso em 26 de outubro de 2013.
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