RITOS E ENTREGAS NA CATEQUESE - INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ
Um texto para ser lido com carinho por quem quer formação catequética.
Os vários ritos de entrega na catequese...
Outro dia estávamos
comentando em nosso grupo a respeito do Rito de Entrega da Oração do Senhor –
Pai Nosso. E ali surgiram algumas questões quando comentei que estes ritos
carecem de preparação e cuidado tendo em vista que não são meros “ritualismos” para
deixar a missa mais bonita.
Na verdade estes ritos de
entregas tem sido inspirados pelo RICA – Ritual da Iniciação Cristã de Adultos,
livro litúrgico que orienta as diferentes etapas do catecumenato (iniciação
cristã de adultos em nossa Igreja), aprovado pela Sagrada Congregação para o
Culto Divino em 1973. No Brasil ele teve uma nova edição aprovada em 2001 pela
CNBB, que trouxe algumas mudanças na disposição gráfica e inclusão de algumas
normas exigidas pelo Código de Direito Canônico, textos bíblicos aprovados pela
Sé Apostólica e também algumas observações sobre a Iniciação cristã que
constavam apenas no Ritual de Batismo de Crianças.
Apesar de sua “extraordinária riqueza litúrgica e preciosa
fonte pastoral”, ele ainda permanece desconhecido da maioria dos agentes de
pastoral ligados à catequese de adultos e a catequese de crianças. Observamos, já
no prefácio do livro o Decreto de 1972, da Sagrada Congregação para o Culto Divino,
que restaura “o catecumenato dos adultos
dividido em várias etapas, de modo que o tempo do catecumenato, destinado a
conveniente formação, pudesse ser santificado pelos sagrados ritos celebrados
sucessivamente.” No entanto, o que podemos observar na maioria das Igrejas
particulares é que ainda se faz a catequese de adultos nos moldes “doutrinais”
e com o único objetivo se fazer a “regularização” da situação sacramental (objetivando
principalmente o matrimônio) daqueles que procuram as paróquias. Ou seja,
faz-se um catequese baseada quase que exclusivamente no Catecismo sem levar em
conta, de fato, a INICIAÇÃO CRISTÃ destas pessoas.
Com o pedido de restauração
do Catecumenato para os adultos, nossa Igreja se viu diante da necessidade premente
de reestabelecer a catequese como era nos primeiros tempos da nossa Igreja, ou
seja, adotar a IVC – Iniciação a Vida Cristã inspirada no processo catecumenal.
E a catequese que fazemos, com crianças, jovens e adolescentes, “tomou a frente”
de toda ação pastoral necessária, adotando em seus planejamentos algumas ações
da catequese catecumenal de adultos, adaptando celebrações, ritos e entregas do
catecumenato à catequese de nossas crianças e jovens. Em muitas paróquias
encontramos na catequese das crianças características da IVC sem que o resto da
paróquia sequer tenha conhecimento do que seria um processo de IVC catecumenal,
que, em sua base, deveria envolver TODA A COMUNIDADE, pastorais, movimentos,
grupos, lideranças.
Mas, o que a primeira vista,
parece um equívoco, tem se mostrado uma verdadeira ação do Espírito Santo no
sentido de que, com a implantação dos ritos e celebrações de inspiração
catecumenal, nossa catequese tem se tornado mais litúrgica e mistagógica. Temos
celebrado mais, orado mais e dado mais valor aos símbolos da nossa fé.
Só que, aqui faço um alerta:
não tomemos os RITOS e ENTREGAS como modismo e meras celebrações mais bonitas e
“interessantes”. São ações que tem o objetivo de enriquecer nosso espírito e
trazer de volta todo o “mistério” da nossa fé.
Observemos por exemplo o
seguinte: o RICA prevê durante o processo de Iniciação, ritos e a entrega de
alguns símbolos, feitos durante a celebração com a comunidade. O primeiro deles
é o RITO DE ACOLHIDA dos novos catecúmenos (adaptando-se a nossa realidade: aos novos catequizandos em
preparação ao sacramento da Eucaristia), onde, durante a celebração se faz a
entrega da PALAVRA (Bíblia), base de todo o ensinamento catequético.
No entanto, pude observar em
alguns manuais e orientações pastorais que esta acolhida e entrega tem sido
feita no início da catequese... correto! Mas, na catequese de CRISMA? Ora, por mais que o processo de IVC
catecumenal esteja sendo iniciado naquele momento na paróquia, não dá pra
esquecer que estes jovens JÁ ESTÃO NA PARÓQUIA DESDE A CATEQUESE DE EUCARISTIA!
E que aos 13, 14, 15 anos já tem uma Bíblia ou já a manusearam muito nos anos
de preparação anterior! Correto esta entrega e acolhida, se o jovem está
COMEÇANDO naquele momento a catequese e não recebeu nenhuma preparação anterior
e ainda não fez a Eucaristia. Ora, se estamos “acolhendo” neste momento e só
agora entregando a Palavra aos jovens, que podem até já ter participado da
catequese de eucaristia, estaremos NEGANDO tudo aquilo que nossa Igreja já fez.
Que esta catequese anterior tenha sido equivocada e não tenha levado a
verdadeira conversão e encontro pessoal com Jesus, não quer dizer que tenhamos que fazer o Ritual de Acolhida,
como se a pessoa estivesse entrando pela primeira vez na Igreja, para começar
uma catequese frutuosa no aspecto “Evangelização”. Ela já leu a Bíblia, senão com o coração, com a mente, resta agora, unir as duas coisas.
Com relação as duas outras
entregas de símbolos previstos no RICA. Sim, são somente DUAS! Entrega do Símbolo
(Credo) e Entrega da Oração do Senhor (Pai Nosso), conforme preceitua os itens 125
a 187 e 188 a 192 (pgs 91 e 104). Ambas são
feitas durante a etapa (no catecumenato) de Purificação e Iluminação, ou seja, próximas
ao sacramento, podendo ser feitas na etapa anterior (catequese) a critério
pastoral. E não são entregues apressadamente NUMA ÚNICA CELEBRAÇÃO! O RICA prevê que se faça os ritos de “escrutínio”
(que são três), sendo entregue o Símbolo (Creio) depois do primeiro escrutínio
e a Oração do Senhor depois do terceiro.
Só para esclarecer: Os “escrutínios”
se realizam por meio dos “exorcismos”, são sobretudo, ESPIRITUAIS. São expressões
que traduzem, na verdade, “orações”, “súplicas” e “bênçãos”. O que se procura
por eles é purificar os espíritos e os corações, fortalecer contra as
tentações, orientar os propósitos e estimular as vontades, para que os
catecúmenos se unam mais estreitamente a Cristo e reavivem seu desejo de amara
a Deus (cf. RICA, item 154). São realizados nos 3º, 4º e 5º domingo da Quaresma.
A critério pastoral podem ser feitos em outros domingos da Quaresma. Não tenho
conhecimento de que alguma Diocese ou paróquia tenha reestabelecido os
escrutínios em seu processo de catequese catecumenal. Por aí se vê o quanto
estamos perdendo ao se ignorar esta parte do processo.
Mas, enfim, se não fazemos
os escrutínios e não conseguimos fazer a etapa de Purificação e Iluminação na
Quaresma, podemos colocar os ritos e entregas em outra época conveniente à
paróquia. Mas, preceder (SEMPRE!) a entrega do Símbolo e da Oração do Senhor, de
uma catequese a respeito, tanto para os catequizandos quanto para os
pais/responsáveis. Nossos iniciandos na fé PRECISAM saber e entender o
significado profundo de se receber o Símbolo da nossa Fé apostólica e da Oração
que Jesus nos ensinou. Durante a celebração (missa), não se explica nada, nem
se faz “catequese”. Aliás, se um símbolo precisar de explicação é porque ele
não simboliza aquilo que queremos. A união da Catequese e da Liturgia passa
pelo profundo respeito que se deve ter por ambas as ações. A catequese ensina e
orienta, a Liturgia celebra.
E aqui entra um outro
assunto que são as demais entregas que é costume se fazer em alguns lugares,
durante a missa da catequese: “Mandamento do Amor”, “Mandamentos do Senhor”, “Bem-Aventuranças”
e outras invenções catequéticas. Sim, são “invenções” da catequese, não estão
disciplinadas pelo RICA e, portanto, não passaram pelo crivo da Sé Apostólica. Nada
contra que se faça. Cada paróquia, junto com o pároco, equipe de liturgia e
equipe de catequese podem fazê-las. No entanto, fogem totalmente do aspecto
litúrgico da missa. Pior ainda se forem feitas sem uma catequese anterior a
respeito, sem que a comunidade entenda o que se está fazendo e misturado com os
ritos do catecumenato. Estas pequenas
celebrações são maravilhosas se forem feitas NA CATEQUESE, como “celebração
catequética” após cada término de assunto, revestidos de sentido mistagógico,
contemplativo e orante.
E devemos pensar também, que
tudo que fazemos e “inventamos” precisa ser visto com um profundo respeito pela
comunidade e assembleia. A missa tem seus ritos próprios, sua condução normal.
Dura em média uma a uma hora e meia. Nesta missa temos crianças que, por natureza,
são impacientes e inquietas. Pense-se então que, qualquer coisa que leve a uma
missa prolongada além do normal, vai gerar insatisfação e inconveniência para
os pais. “Ah! Que cristãos são esses que
não tem tempo para Deus?” E aí queremos usar o tempo da missa para fazer a
catequese que não conseguimos fazer no lugar e hora dela...
Vamos pensar sempre que,
vivemos numa mudança de época e não numa época de mudanças onde as pessoas tem
que se adequar a Igreja. A Igreja é que tem que se adequar aos novos tempos. E,
infelizmente para nós e Deus, o tempo é de pressa.
Angela
Rocha
Catequista
ue gostaria de fazer parte do grupo
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