Mais uma vela que se acende...

Normalmente eu fico feliz em meus aniversários. Só que este ano a felicidade está meio apagada. Estou como a crônica de Rubem Alves sobre o aniversário. Parece que finalmente me dei conta de que “apaguei” 48 anos da minha vida.

E veio a consciência de que este é um tempo que não tenho mais... E a sensação de “perto do fim” veio igual àquelas lufadas de ar quente de quando a gente abre a porta depois de ter estado no ar condicionado um tempão... Absolutamente desconfortável e desanimador. Analogia nenhuma com a quentura dos infernos, pois, pra lá é que não quero ir... Pelo menos estou fazendo um esforço danado para merecer o céu. Só que eu queria ficar um pouquinho mais por aqui. Uns bons 50 anos a mais não seriam de todo mal.

Mas, aí eu penso como estarão as minhas artroses, osteófitos, epicondilites, plantites, diabetes e outros ites e etes... E vem aquela vontade de não fazer aniversário nunca mais na vida! Prognósticos nada agradáveis. Ah! Eu quero me “aposentar” sem necessariamente ser uma “aposentada” da vida. Quero ter pernas pra andar, olhos pra ver, cérebro para pensar...

E para que a coisa não fique mais deprimente ainda, vamos ao texto de Rubem Alves... “Ah! Vida, vela, coisa frágil que se apaga com um simples
sopro...”
A coisa ainda tem jeito!

Rubem Alves está certo! Realmente, a gente tem mesmo é que reverter o ritual. Nada de ficar apagando vela! Tem mais é que acender uma luz na sala escura, que nenhum sopro apague, que dure todo o tempo da festa! Nada de chorar os anos passados e a vida “desfeita”. Que venha a alegria dos anos que esperam ainda para ser vividos... Com dor ou com mais dor ainda.

Ao invés de soprar a vela, vamos acender a vela... Aquela vela que não se compra em pacote, porque a vida é única e MINHA, ninguém tem outra igual. E vou fazer a minha vela devagarinho, conforme a receita do Rubem “gota a gota, seguindo o ritmo do corpo que vai se formando dentro do corpo da mãe, célula a célula”.

Peço a todos que me amam (e que me amem sempre!), que me ajudem. Que cada um derrame um pouco de sua cera derretida (um pouco da sua vida) no corpo da minha vela, que vai crescer, do lado de fora, enquanto eu, criancinha, vou crescendo do lado de dentro. E da mesma forma me derramo em vocês, para que a vela das suas vidas também vá se construindo...

Esta vela é mais que uma vela. É uma oração. Tem uma estória. Tem um nome. “Cada vela é um desejo de luz e de calor. Cada vela é um reconhecimento de que, para dar luz e calor, é necessário não ter pena do próprio corpo. A vela vive morrendo”.

Nós sabemos que vamos morrer. “Quem faz uma vela medita sobre a beleza e a tristeza da vida. E, com isto, aquele que a faz fica mais sábio.” Pois é vivendo que se aprende, é no exercício diário e morrente que se vive.

E que coisa melhor se pode oferecer a uma pessoa que comemora seu nascimento do que a sabedoria daqueles que já nasceram? A vela é um testemunho dos desejos dos que já vivem, oferecidos àquele que irá viver mais um pouco. Os desejos que as pessoas “despejam” em nós, como cera derretida, nos dizem como seremos. E que tipo de vela estamos formando e transformando...

“Há velas esguias que desejam subir: sonhos alados. Outras, redondas, são frutos encantados: sonhos de prazer. Dádivas luminosas aos olhos, são também dádivas perfumadas, delícias para o nariz. Que perfume deverá desprender ao se queimar? Canela? Jasmim? Cravo? Pêssego?As velas acariciam o corpo mesmo quando os olhos se fecham. E as suas cores dirão das cores dos desejos daqueles que as fizeram. Pois a alma é colorida...”. E são as pessoas que nos amam que fazem nossas almas e vidas mais coloridas.

A cada aniversário que se celebra, a vela sai do seu lugar, cada vez menor, para ser de novo acesa, repetindo a eterna lição de que, se é verdade que a vida se apaga facilmente com o sopro de um vento, é verdade também que ela se acende de novo ao ser tocada pela chama... E que esta chama seja cada um de vocês a me desejar: Feliz Aniversário, Ângela!


Autores: Rubem Alves e Ângela Rocha

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