DIAS DE VENTO...
Gosto
dos dias de vento.
Sempre
que o ouço balançando as minhas janelas, não resisto a espreitar lá para fora
para ver tudo o que ele mexe... Quando temos o coração acordado, até o vento
pode conversar conosco. E dizer-nos muitas coisas importantes...
A
mim, que em frente à janela do meu quarto tenho muitas árvores, o vento fala-me
sempre da importância das raízes. Sim, gosto dos dias de vento, porque me
lembram a importância de ter raízes. Às vezes, parece que vivemos sem
chegar nunca a lançar raízes profundas.
Ter
raiz significa encontrar um sentido verdadeiramente válido para viver, um
sentido daqueles que as primeiras tempestades de inverno derrubam, perene, mais
forte que a morte, como o Amor.
Um
dia, Jesus disse tudo isto contando a parábola das duas casas.
“Era
uma vez um homem insensato, que construiu a sua casa sobre a areia: veio a
chuva, o vento e a tempestade e a casa ruiu. E havia um outro homem, este
sábio, que construiu a sua casa sobre a rocha: veio a chuva, o vento e a
tempestade, mas a casa permaneceu.”
A
casa sobre a rocha, como as árvores com raiz, como as vidas com sentido…
E
lá fora, o vento continua a segredar-me tudo isto enquanto embala e empurra as
árvores do jardim: vão-se as folhas, caem alguns frutos já tardios, partem-se
alguns galhos mais frágeis, mas a árvore permanece, porque está enraizada.
E
assim o vento até vai limpando-a... O vento, assim, até vai espalhando sementes
com as suas invisíveis mãos.
Está
vendo? Quando há uma raiz profunda, o vento forte até se torna para as árvores
instrumento de purificação e fecundidade. Temos que lançar raízes, assumir
motivos válidos para viver e enfrentar todos os ventos, olhos nos olhos. E no
subsolo do nosso coração, temos que aprender dia após dia, que para os nossos
corações enraizados não há problemas. Nunca há problemas, apenas desafios. Sim, transformar
os problemas e as lágrimas em desafios a vencer: esse é o
segredo dos corações bem enraizados, para domar todos os ventos. Para isto, a
aposta primeira não se faz nas folhas, nos frutos ou nos ramos débeis do nosso
ser; tudo começa nas raízes, no sentido, nos critérios.
Olha,
o vento a dançar por entre as árvores do jardim está ainda a dizer outra coisa:
até na morte, até na morte a raiz é sinal de uma grande dignidade. Porque uma
árvore morre sempre de pé…
SHALOM
Rui
Santiago cssr
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