Sobre a Missa da catequese...
Na verdade, a "missa da catequese", mesmo
sendo considerada "DA" catequese, é de toda
comunidade. O que acontece é que o pároco disponibiliza um horário de missa
para que os catequizandos e suas famílias participem dela, celebrem junto com
os adultos ou, em alguns lugares, até sem eles. Mas na grande maioria das
paróquias a missa ainda é, DE TODA A COMUNIDADE.
Durante muito tempo eu me vi preocupada, como a
maioria dos catequistas, com a baixa "frequência" dos catequizandos
nas celebrações litúrgicas. E me preocupei, como muitos, em fazer de tudo e
mais um pouco para que, nossos pequenos fiéis lá estivessem, naquele dia e
horário. E já fui, confesso, entusiasta de teatrinhos,
showzinhos e muitos "inhos" mais. Mas, estudando liturgia mais a
fundo eu vi que, na verdade, estamos totalmente equivocados quando mudamos o
rito em prol da "presença" das crianças.
Explico. Vocês já pararam para pensar o que é essa "presença" das crianças na
celebração? Na festa, no banquete, do Corpo e Sangue de Cristo, sendo que elas
nem sequer participam ainda dele? Se temos que "exigir" presença dos
catequizandos, que seja depois que eles fizerem a primeira eucaristia, ou seja,
dos crismandos, pois estes sim, já podem perfeitamente participar em comunhão
com toda a assembleia de fiéis. E, normalmente deles não se exige nada... "Ah! Adolescente é difícil...
deixa eles."
Obviamente que é importante a presença das crianças
na missa. Mas... COM OS PAIS! COM A FAMÍLIA! A família, essa instituição que a gente enche a
boca pra falar que é "a primeira catequese das crianças", fica de
fora na hora de dar o exemplo? Que sentido existe numa missa com crianças onde os
pais ficam em casa? Qual o sentido de uma celebração "conjugada" (antes ou depois) com o encontro? Os pais não estão,a comunidade não está. O que as crianças pensam em ter que participar de
um "negócio" que os pais não gostam de participar e vivem arrumando
desculpas pra não fazer? Gente, a missa NUNCA será e terá VALOR para uma
criança se o pai e a mãe não têm esse valor!
Missa = celebração da comunidade povo de Deus.
Missa ≠ de hábito.
Mas o que tenho percebido é que temos insistido na
presença das crianças na missa como se fosse uma espécie de
"exercício" para adquirir um "hábito", um
"costume", uma "rotina", enfim... E temos visto que não
funcionou com os pais delas...
Missa é hábito? É costume? É rotina? Ou é o encontro de nossas vidas cotidianas com
Deus, com Jesus na Eucaristia?
Nenhum adulto deveria frequentar
a missa porque foi "treinado" na catequese pra não faltar à missa.
E se muita gente frequenta a missa por "hábito", explica-se o
fracasso que tem sido nossa evangelização nestes últimos tempos. Para viver, verdadeiramente, a celebração litúrgica a
pessoa precisa adentrar e viver o "mistério" da fé. Precisa se
entregar ao ritual: pedir perdão pelas falhas cotidianas, louvar e glorificar a
Deus onipotente, escutar a Palavra, professar a fé, fazer preces pela
comunidade, oferecer os dons que possui, lembrar e fazer a oração que fala
diretamente ao Pai, santificar-se e renovar-se na comunhão, levando isso lá pra
fora, para a vida que se começa após cada comunhão.
E, para quem VIVE VERDADEIRAMENTE a missa como
memória da vida, morte e ressurreição de Cristo, ela jamais será repetitiva,
"hábito", "costume", rotina...
Portanto, dou um conselho a vocês catequistas.
Parem de tratar esse assunto, da falta das crianças na missa, como uma verdadeira
"tragédia". Parem de se descabelar e plantar bananeira lá no altar
pra chamar atenção. Parem de fazer show de bonecos, marionetes, contar
historinha de bichinhos, criar personagens fictícios, distribuir hóstia não consagrada ou qualquer espécie de pãozinho. Exemplo "de
verdade" são pessoas! E essas pessoas estão na casa delas!
E quando as crianças crescem, não estão mais na catequese e vão numa missa sem
essa parafernália toda: teatro, fantoche, pirulito, paõzinho; qual é o sentimento delas? É de TRAIÇÃO! frustração, decepção. Sim. Elas se sentem
traídas por vocês! Cadê os bonecos? Cadê a bicharada contando historia? Cadê o
pirulito, a bala, o pãozinho? "Ah! Então a missa é isso? Não tem anda divertido."
A missa, se formos falar como
"catequese", precisa ser mais intensamente vivida, quando o
sacramento da Eucaristia se encontra próximo, ali no último ano/etapa de preparação à Eucaristia. Aí sim, é interessante que o
catequista valorize a celebração, peça as crianças que participem dela a cada
domingo, que vão observando os ritos, que perguntem o que não entenderam, que
falem de suas dúvidas. Mas, NÃO DÊ AULA DE MISSA! Não trate a missa como uma questão
de biologia a ser dissecada e olhada no microscópio em todos os seus
"pedaços". Quando trabalhamos o sacramento da Eucaristia na
catequese, nós estamos explicando a missa! Quando levamos as crianças para
conhecer o espaço sagrado e mostramos o que significa os símbolos, os objetos e
tudo mais... Estamos explicando a missa! Mas deixe-os vivê-la, eles mesmos, em
seus mistérios! Porque "mistério" não se explica!
Quando encontro meus catequizandos
na Missa eu fico feliz, vou cumprimentá-los e AOS SEUS PAIS e demonstro minha
alegria em
encontrá-los. Mas , se não os vejo, se eles não vão, eu não
cobro, acuso ou faço "chantagem". Nenhuma criança de 11 anos decide a
vida sozinha ou aonde quer ir. Eles sabem que amo encontrá-los e vão quando
se sentem bem em fazê-lo.
Outro dia, eu estava quieta lá no meu banco em oração e alguém
me bate nas costas: era um dos meninos da catequese pra me dar um abraço. No
dia do catequista, na saída da missa lá estava uma das minhas catequizandas,
que raramente vai à missa, me esperando com um vasinho de flores pra me
presentear.
E quando tenho oportunidade de ajudar na organização,
convido-os para fazer o ofertório, leituras, preces, entrar com símbolos, para
que eles, aos poucos, adentrem a beleza desse rito que marca a nossa fé e nossa
vida de cristãos. Convido, nunca imponho. E quando peço ajuda, eles vão.
O que mais pode ajudar as crianças a gostarem de
estar na Igreja? Que aja uma acolhida diferenciada a eles, que o sacerdote fale
uma linguagem que eles entendam, que os chame em alguns momentos, que eles se
sintam bem vindos, que possam ir tomar água quando tem sede, fazer xixi se der
vontade, que não fiquem sendo "cutucados" a toda hora sobre o
"certo" e "errado". E que escutem "historinhas"
da boca do padre, porque lá, o catequista é ele e não nós.
Ângela Rocha
Obrigada Ângela, por suas lúcidas e abalizadas palavras. Vale uma boa reflexão para os que fazem catequese com crianças! Abraços, Leonor.
ResponderExcluirObrigada Angela por essa reflexão, linguagem simples, bem colocada e extremamente ao encontro do que vivemos. Muitas vezes querem culpabilizar a catequese o esvaziamento da igreja. Que o Espírito Santo nos acompanhe de perto.
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