Coerência e liberdade


Sou maníaca pelo significado das palavras e quero lançar aqui uma discussão e um desafio. Discussão pelo fato de que coerência, que pode ser entendida como um sinônimo de liberdade, também que dizer harmonia, coesão, unidade entre o que se fala e faz, e, “não contradição”. O catequista coerente é aquele que tem a liberdade de julgar o que é certo e errado. E a coerência está no fato de que se pode até ser “incoerente” errando e ao mesmo tempo sendo pessoa de igreja. Confuso, né?

Mas a discussão que quero levantar é pelo fato de que somos totalmente “incoerentes” em muitas de nossas atitudes na Igreja. Nas nossas ações dentro da catequese e no próprio ensino das nossas doutrinas.

Explico. Estava conversando com uma amiga catequista e falávamos das missas da catequese. Ou melhor, da presença das crianças na missa. E nem preciso dizer que em todo lugar é fatal: As crianças e os pais não vão à missa!

Em alguns lugares, nem as catequistas vão à missa da catequese. Que dirá as crianças! Só aí reside uma das maiores incoerências da catequese. Onde está a harmonia em se pregar e não praticar o que se prega? Tenho plena consciência de que tenho liberdade para fazer o que quiser. Para julgar o certo e o errado. Mas, e quando julgo que o errado tá certo? Foi-se pras cucuias minha coerência! Perco minha liberdade de julgar.

Agora, vamos julgar a Missa do ponto de vista da Liturgia da Igreja.

O que é a Missa? É a memória da morte e ressurreição de Cristo. Não é? É a celebração da comunhão. É a Eucaristia o ponto central. Então porque a gente enche o saco das crianças para participar de um Rito que elas não podem participar? Metade da missa não é para as crianças! Não estou falando aqui das crianças da Crisma, óbvio.

Outra coisa que a gente, “catequista”, adora fazer: Explicar tudo na missa. Fazer procissão de entrada com símbolo, que se explica por si só, explicando o que significa o símbolo; fazer entrada da palavra explicando o que é a bíblia, que não precisa de explicação nenhuma; fazer ofertório de pão e vinho e junto, galheta e Sibório, quando tudo é a mesma coisa; enfim, adoramos fazer “catequese” na missa. É por isso que os liturgistas nos odeiam! Missa, teoricamente é celebração, rito... Para quem está catequizado!

Numa palestra que assisti na pós-graduação em catequética, Pe. Luiz Baronto, mestre em Liturgia, comentou conosco que, numa certa época, as crianças ficavam na missa somente até o Rito da palavra, escutavam a homilia do padre e então elas eram direcionadas para uma espécie de “escola dominical”. A catequese era feita a partir desse momento. Somente os adultos participavam do Rito Eucarístico. Isso criava no catequizando uma “expectativa” e todo um mistério em torno daquilo que é, realmente, o receber Cristo na Eucaristia.

Essa é a discussão: Como ser coerente com o que ensina a Igreja, com o que ensinamos nós. Onde está a “harmonia de idéias”?  

O desafio é esse: Como fazer a Missa da Catequese?  Como torná-la “necessária” na vida das crianças, se não é na vida dos pais?

Que desafio! Ainda mais agora com a revitalização da Iniciação à Vida Cristã e com o resgate do estilo catecumenal. Que ritos, que símbolos, o que passar para as crianças para que elas entendam a “mistagogia” do sacramento da comunhão? Fazer com que elas participem anos, sem na verdade “participar”, de algo? Ou criar todo um “mistério” em torno da comunhão? Dando a conhecer a missa de forma integral somente quando elas estiverem preparadas?

Responda quem puder... E com coerência. Sinônimo de liberdade.

Angela Rocha

Catequista de Eucaristia

Comentários

  1. Teria que ser muito boa a preparação à parte, e referente ao Evangelho do dia. Eu acho que as explicações sobre a Missa precisam ser dadas na Catequese, e que elas assimilem a importância enorme que tem. Daí se houver participação delas, e nos cantos também, seria possível a integração delas, sem precisar teatro de marionete, etc. Não é ainda o caso da nossa Capela.

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