DIA DE CATEQUESE: O LAVA-PÉS


No meu encontro da semana passada, trabalhei com as crianças o “Lava-pés”: o modelo de servir que Jesus, tão sabiamente, nos deixou.

Preparei o encontro no salão da Igreja. Trouxe uma bacia, uma jarra e até esquentei a água. Preparei ao lado uma mesa com pãozinho, suco de uva e fiz um círculo com as nossas dezessete cadeiras. Três ficaram vazias. Como eu havia avisado na semana passada que iria fazer esse encontro, dos dezesseis, três não vieram.

Por quê? Porque não queriam que eu lhes lavasse os pés!

Um dos meninos presente ao encontro também não quis... Ao chegar a vez dele, repeti as palavras de Jesus: “Pedro, não queres que eu lave seus pés? Se não o fizeres, não terás parte comigo.” Ele me respondeu; “Tia, não sou Pedro, sou Luiz Henrique.” É, eu percebi...

Mas o encontro foi bom. Li o Evangelho, eles escutaram quietinhos e vi que entenderam. Depois fizemos a partilha do pão e do vinho (suco de uva) e conversamos bastante.

Contei pra eles que na minha infância costumávamos (eu e meus irmãos), lavar os pés do meu pai. Ele chegava sempre na sexta-feira a noite, cansado da semana inteira “no mato”, como ele dizia. Seu trabalho era cortar árvores para as serrarias da região. Antes de dormir ele gostava de fazer o “escalda-pés” para relaxar.

Quando éramos bem pequenos brigávamos por esse privilégio. Depois de algum tempo eu já torcia para não ser a “escolhida”. Comecei a achar que lavar os pés do meu pai era “nojento”...  Mas, quando eu tinha doze anos, ele morreu em um acidente de trabalho. 

Ah! Como eu gostaria de lavar os pés do meu pai hoje! Contei desse meu sentimento para as crianças e me emocionei ao fazê-lo. Tive que me segurar para não chorar. Eles também me contaram muitas coisas. Luiz Henrique nos contou que não gosta muito de água por quase ter se afogado um dia. Mas o encontro foi muito bom.pousada porto de galinhas

E teve frutos no próximo...

No encontro desta semana, lá pelas dez horas (a catequese começa às nove e meia), chega um pai afobado tentando trazer o filho: eles estavam atrasados e o menino estava com vergonha de entrar, fugiu do pai e voltou para o carro.

Ele já havia faltado no encontro anterior e fui até o carro falar com ele (e a turminha lá dentro fervendo!). Felipe estava chorando e nem olhou pra mim. Estava triste e com vergonha de não ter vindo ao último encontro. E o Pai ali, pra lá e pra cá... Dizendo que, na verdade, ele não veio porque sabia que íamos fazer o Lava-pés e ele não queria tirar o tênis porque tinha frieira. Que hoje tinham perdido a hora, etc., etc.

Pedi que ele parasse de chorar e que me prometesse que não iria faltar aos dois últimos encontros antes das férias. E eu lhe disse que, para mim, seria uma honra lavar os pés dele, com frieira, chulé, o que fosse. Que ele imaginasse Jesus lavando os pés dos discípulos... naquela época eles tinham tão pouca água. Quanto tempo será tinha passado desde a última vez que tinham lavado os pés? Em que “cascão” Jesus deve ter pegado! Muitos andavam descalços ou de sandálias e seus pés deviam estar uma lástima. Jesus foi um “herói” não foi? E fez isso para provar que não era mais que ninguém e amava gente de pé sujo, com frieira, com chulé! Os pés que lavei estavam tão limpinhos. E será que não existia frieira ou coisa parecida naquela época? Ninguém tinha sapato! Ele se acalmou e riu um pouco das minhas bobeiras e fomos pro encontro.


Ângela Rocha
Catequese/ 2009. pousada porto de galinhas


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