COMO PRESERVAR O SEU CASAMENTO... 2ª PARTE
Aconselhamentos aos casais ― módulo II
Conforme prometido, os
conselhos da revista O Cruzeiro aos maridos, em
1935, pelo "chronista" Luiz Raymundo, amplamente divulgados para uma
classe média que vivia entre guerras e saudava Getúlio Vargas. Interessantes os
maiôs da época, os campeões de natação dos clubes urbanos e os cabelos das "coquettes"
nas colunas sociais, em sua maioria, respeitáveis senhoras casadas.
Na seção "Conselhos ao esposo", Raymundo
afirma que um homem deve estar sempre barbeado "de fresco", coisa
pela qual sempre lutei pela vida afora. Deve haver mulher que goste de lamber
pelos, mas nunca foi meu caso, nem sob os disfarces do terrível cavanhaque.
O cronista continua o texto indicando que o marido não se irrite quando a mulher pedir dinheiro, e nem mesmo que o cônjuge peça satisfação sobre os gastos dela. Isso é coisa de mulher. Que a deixe livre para resolver os gastos da casa e, eventualmente, os da perua.
Dentro de casa, homem não deve andar de pijama e chinelos. Deve deixar sempre os "objectos em ordem" e jamais se esquecer: ela não é uma das criadas. "Você já passou da idade em que necessitava de uma ama." Ora, vejam só! Enquanto ela põe o café, ele deve fingir que isso não é tarefa da criada. Um equilíbrio que exige inteligência. Nada se diz, no manual, sobre se homens têm aptidão para pôr, eles mesmos, a mesa e o café. Não sei se em pouco mais de oito décadas deu tempo de aprender. Acho que sim.
O cronista continua o texto indicando que o marido não se irrite quando a mulher pedir dinheiro, e nem mesmo que o cônjuge peça satisfação sobre os gastos dela. Isso é coisa de mulher. Que a deixe livre para resolver os gastos da casa e, eventualmente, os da perua.
Dentro de casa, homem não deve andar de pijama e chinelos. Deve deixar sempre os "objectos em ordem" e jamais se esquecer: ela não é uma das criadas. "Você já passou da idade em que necessitava de uma ama." Ora, vejam só! Enquanto ela põe o café, ele deve fingir que isso não é tarefa da criada. Um equilíbrio que exige inteligência. Nada se diz, no manual, sobre se homens têm aptidão para pôr, eles mesmos, a mesa e o café. Não sei se em pouco mais de oito décadas deu tempo de aprender. Acho que sim.
Leitor, tome nas mãos (ou
nas telas) o texto da coluna passada e coloque lado a lado com este aqui. É
que Raymundo oferecia ao leitor do Cruzeiro duas
colunas para cada um dos elementos do casal. Se ele mencionava aspectos do
silêncio e do relacionamento para a mulher, também o fez, dando puxões de
orelha nos rapazes. Segundo o cronista, um homem não deve chegar em casa e,
imediatamente, pôr-se a ler os jornais. Também não será apreciado pela esposa
se for muito "taciturno". É necessário que ele fale um pouco,
especialmente se for de assuntos que ela tenha a capacidade de entender. "Por mais fatigado que se encontre ao voltar
ao lar deve contar a sua esposa qualquer cousa interessante ou nova."
Afinal, completo, a moça fica ali sem ver o mundo, sem ler jornais e sem saber
de nada.
O marido não deve fazer
recriminações sobre a lavagem das roupas ou porque estejam mal passadas ou sem
botão. A esposa adivinha tudo. Não se deve atrasar para o almoço e nem chamar
amigos para comer sem avisar. Quando sentado à mesa, é preciso não demonstrar
pressa e comer sem exagero. "A
refeição commum é o repouso da família." É preciso evitar assuntos
desagradáveis, tais como doenças, dinheiro e, arrisco eu, outras mulheres ou
piadinhas de esposa. Ou eu é que preciso aprender a escutar? Acho que ando
precisando de um manual mais atualizado.
Não havendo muito o que
comer, leve-se a esposa a um restaurante. Isso diz o cronista na década de
1930. Se puder dirigir até lá, melhor ainda, digo eu. Se for mesmo insistir em
fumar, despeje as cinzas no cinzeiro que ela pôs aí ao lado dos seus talheres.
Não use, para isso, os pires herdados de vovó ou as xícaras de porcelana que
sua tia deu no casório. Não obrigue sua esposa a mentir, não diga que ela abusa
no "rouge", não abra as correspondências que chegarem para ela, não
fume na cama, nem durante o almoço, nem no quarto das crianças. Não durma
depois do almoço. Não importune sua mulher quando ela disser que está cansada.
Depois de um dia como este, quem não estaria? Deixe que ela se vire para o lado
de lá e se encolha na beirada da cama. Aproveite e se espalhe (isto é por minha
conta). Satisfaça os pequenos prazeres e caprichos de sua cônjuge, diz
Raymundo, e não mostre a ela o que sabe fazer em casa. Deixe que ela lave,
passe, cozinhe e cuide das crianças, é o que diz o cronista.
A mulher também deve ter um
dia só para ela, mas o cronista não entra em detalhes sobre este item. Melhor
não dar muita corda, não é mesmo? Passa o autor então a descrever o que chama
de "um esposo fidalgo".
A mulher admira o valor nos
homens. O esposo não deve, nunca, se mostrar tímido, assustado ou, "o que
é peior", chorando! "As lágrimas são a arma da mulher, armas que ella
não cede a ninguém." Vê se vou emprestar o que me restou? As mulheres
"admiram os homens que triumpham". Não conte os aborrecimentos e os
fracassos da profissão que escolheu. Conte os mais insignificantes sucessos
como se fossem imensos. Disso ela gostará. Seja, "em qualquer emergencia, o heroe, para que nunca se acabe o romance cuja
protagonista é sua esposa". Corteje sua mulher, principalmente se ela
"diaria e heroicamente desempenha as funções de uma cozinheira". Isso
não é razão para que "você deixe de tratá-la como senhora". (Nem todo
mundo lê esta parte, acho).
No caso de ir a festas e
bailes, esposo, não se esqueça de convidá-la "para a primeira
contradança" (pelo menos esta). Se tiver carro, não a deixe em qualquer
esquina quando levá-la em casa. Leve-a aonde ela deseja ao menos de vez em
quando. Seja amável com outras mulheres, claro, e também com sua esposa
querida. E "não demonstre, em presença da sua [mulher], uma visível
preferencia" por outras fêmeas. Ao menos não diante dela.
Elogie bastante a
"toilette" de sua esposa. Não deixe de reparar nela. Foi tudo muito
bem-montado. Não "escasseie em elogios". Se você deixar barato, pode
ser que ela fique desleixada. De vez em quando, dê um presentinho a ela,
especialmente flores. Quando ela cair doente (algo que tentará não fazer),
"mostre-se atento e paciente; a
mulher gosta de ser lastimada".
Na rua, não seja "parco
em cumprimentos" aos outros. Não demonstre excessivo interesse por outras
mulheres. Se sua esposa for olhar uma vitrine, não encha o saco mostrando uma
loja de rádios. Melhor deixá-la vendo roupas. Se forem tomar um trem (ou
qualquer coisa mais nova), não ande na frente, algo "descortez e
contraproducente". Não fale com ela em tom autoritário, "seja-o de facto, mas não com palavras",
entendeu? Não discuta com sua esposa se ela estiver "enervada". Mude
de assunto. Não conte a ela nada dos seus segredos profissionais. "Lembre-se que a indiscrição feminina tem sido
causa de muitas catastrophes historicas."
Na seção "Não seja
idolatra", os conselhos são interessantíssimos para homens realmente
apaixonados. "Não considere sua
mulher como um ídolo, por mais que ella o mereça." Em 1935, Luiz
Raymundo dizia: "O objectivo de sua
existencia [do marido] é a pátria, a affirmação de sua individualidade e, não,
'servir uma formosa dama'". É preciso ser condescendente com as
fraquezas da esposa, satisfazer-lhe as curiosidades (nem todas, claro), confiar
desconfiando (para não ser o último a saber das estripulias dela). É preciso
ser o chefe do lar desde as primeiras semanas de casado, "em caso contrário, verá frustradas, mais
tarde, todas as tentativas para estabelecer seu domínio".
Na presença de estranhos,
não critique sua esposa porque ela gosta demais de dança, canto ou música.
Resolva problemas sempre a sós com ela, o culpado dos problemas, não se
esqueça, será sempre você. (Confesso que gostei desta parte, fiz mal?).
Não seja ciumento. "Os ciumes agradam a mulher quando não são
justificados." Diz o cronista que as moças curtem uma cena
injustificável. As justificáveis garantem muito mais aos maridos traídos, não é
mesmo? Raymundo dá a dica (mas tomei a liberdade de atualizar os termos): Se a
mulher ficar irritada, é porque tem coelho no mato. "Observe attentamente esses phenomenos e poderá prevenir muito passo em
falso de sua esposa." E mais: "Porque ela fala com enthusiasmo de outro homem, não é motivo para
ciumes. O perigo é maior quando, em sua presença, ella se abstem de falar nesse
homem".
"Sobre as sogras e as
amigas" é a última seção da crônica "A difficil arte do
matrimonio", de 1935. Não podia faltar esse item para a boa sorte do
casamento. Diz Raymundo que o marido não deve ser "parco" em elogios
aos pais da esposa, especialmente à mãe. Ter boa nota com a sogra é de suma
importância. E se discutir com ela, melhor dar-lhe sempre razão.
Em relação às amigas da
esposa, é melhor tratá-las bem. O trato com elas, no entanto, é sempre mais
difícil do que com a própria esposa. Segundo o cronista, isso, no entanto, pode
ser simplificado. "A mulher jamais
escolhe amiga mais bonita do que ella." Vou pensando nisso durante a
semana.
Para finalizar, diz o
cronista sabichão: o otimismo é indispensável em um casamento, além do "saber freiar as exigencias". Sem
isso, nada feito, afinal, isto digo eu, as chances de dar tudo errado são
obviamente muito maiores. "Não ha
casamentos infelizes: ha pessôas infelizes", diz Raymundo, numa tirada
de autoajuda que venderia livros ainda hoje. De maneira geral, acho que estas
crônicas ainda seriam um sucesso.
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