A quem cabe culpar?


 
Tenho lido diversas manifestações na internet culpando o governo da presidente Dilma e do ex-presidente Lula pela aprovação da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. Numa delas pede-se para exigir que “o STF respeite os próprios limites e seja representativo do POVO BRASILEIRO e não do Lula, Dilma e "grupos internacionais" expressão da CULTURA DA MORTE!”. Não sei exatamente a que grupos internacionais o manifesto se refere, mas posso dizer que, com relação ao STF representar exclusivamente Dilma e Lula, há que se fazer algumas considerações.

Os Ministros do STF são escolhidos pelo Presidente e posteriormente aprovados pelo Senado. Essa “aprovação” é apenas ilusória, já que poucas vezes na história, um deles foi recusado pelo senado.

Dos 11 ministros em exercício, seis foram indicados por Lula: Cezar Peluso, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski, Carmem Lúcia e Dias Toffoli. Dilma nomeou Rosa Maria Weber e Luiz Fux. Celso de Mello, Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes, foram nomeados pelos respectivos presidentes: Jose Sarney, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

Os ministros, claro, não representam o povo, já que foram todos escolhidos, a seu tempo, por um único eleitor, no caso, o presidente da república. Espera-se, no entanto, que exerçam o seu papel que é julgar as questões de maior relevância para a nação. Sua função fundamental é de servir como guardião da Constituição Federal, julgando casos que envolvam lesão ou ameaça aos direitos constitucionais do cidadão brasileiro.

Vivo neste país há 45 anos. E desde que adquiri o uso da razão, posso garantir que poucas vezes vi situações em que, o então presidente em exercício, indicasse os ministros do STF que não fosse ao seu gosto ou conforme as suas conveniências partidárias. Estão aí os vários casos de escândalo passados de corrupção entre os ministros, o que não os impede de assumir.

Aqui faço uma observação. Os ministros Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso, que votaram contra a interrupção da gravidez, foram indicados por Lula. Teriam eles “desobedecido” o mestre que os colocou lá? Outra coisa, Lewandowski quando desembargador no tribunal de São Paulo foi acusado de receber vultosas somas em troca de favores. Peluso, dizem, recebeu R$ 700.000,00 em propina. Devemos perdoá-los por roubar a nação e porque, além de agora terem sido “contra” o governo petista, acreditam no direito á vida de fetos anencéfalos? Os três ministros que, teoricamente, não são fruto deste governo que está aí, não se manifestaram contra, o que mostra que não é a influência deste ou daquele presidente que fez a decisão de cada um deles.

Diante destes fatos, creio que não seria diferente se o presidente fosse José Serra, Marina Silva ou qualquer outro. Nosso país tem um histórico de corrupção muito anterior ao governo petista. É uma coisa tão "histórica" em nossa nação que chega a ser "apartidária".

Acho, porém, que seria simplificar demais a coisa, achar que os ministros votam as questões conforme o presidente que os colocou lá, manda. Desmontaria toda a concepção de democracia e justiça em nosso país. Prefiro acreditar que cada um julga as questões conforme suas crenças, consciências e responsabilidade perante a nação.

Ingenuidade minha? Talvez. No caso da interrupção da gravidez de fetos anencéfalos, li cada uma das colocações dos 10 ministros, procurando isentar-me de pré-julgamento pelo fato de que sou católica e contra o aborto de qualquer espécie. Devo dizer que muitos argumentos utilizados foram lógicos e racionais. Também acompanhei as diversas pesquisas feitas junto à opinião pública e pude ver que a nação encontra-se dividida. Os números a favor e contra giram em torno de 40% a 55%.

Procurei não julgar as pessoas que votaram esta questão pelo seu "passado" e nem pelas ligações com este ou aquele. Também não posso afirmar se o fizeram sendo "mandados" ou não pela presidente Dilma, que é quem “detém” o poder atualmente. Não achei, em lugar algum, uma posição clara da presidente Dilma ou do ex-presidente Lula, a respeito do assunto.

De tudo isso, o que ficou para mim é o seguinte: primeiro a preocupação com o fato de que mais de 40% da nossa nação é a favor da interrupção da gravidez. O que pode a Igreja fazer para reverter isso? Depois não podemos ESQUECER nunca que, o governo que está aí e o povo que é governado, não é exclusivamente católico ou mesmo, cristão. Portanto, podem ter convicções contrárias as nossas.

Sou mulher, sou mãe e me perguntei o que EU faria se isso acontecesse comigo. Cheguei a perguntar ao meu marido. Confesso que me dói o coração imensamente imaginar o sofrimento de uma gravidez cujo filho, tão ansiosamente esperado, pode ficar minutos, quem sabe algumas horas, nos braços dos pais. Mesmo assim, eu e meu marido concordamos que não faríamos o aborto. À vida concebida, cabe somente a Deus decidir a hora de tirar. Mas, temos preparo emocional, psicológico e espiritual para isso. Mas temos que concordar que a maioria das mulheres pode não ter.

Penso que ao governo cabe GOVERNAR, aos ministros LEGISLAR, à Igreja CONVERTER e EVANGELIZAR. E isto nos leva a seguinte conclusão: um povo devidamente CONVERTIDO e EVANGELIZADO, saberia eleger seus representantes e estes representantes, consequentemente, seriam pessoas convertidas e evangelizadas e, assuntos como o direito à vida, jamais chegariam a ser votados por 11 pessoas de um Supremo tribunal. Não estou, de forma alguma, colocando a “culpa” na Igreja. Porque além de sermos Igreja, e nem todos o são, somos SOCIEDADE, indivíduos que dividem o mesmo espaço independente de convicções religiosas. Valores morais e éticos não são prerrogativa de uma determinada religião. Mas lutar por um mundo mais justo e digno, isto sim, é uma prerrogativa de cristãos. Se a culpa é de alguém, é da sociedade, de todos nós.

Algo está errado aqui, e ouso dizer que não é só a nossa política ou nosso sistema jurídico. O povo precisa de informação, cultura, educação e religiosidade. Precisa de CONSCIÊNCIA. O que vejo é que sempre agimos tentando consertar estragos que já foram feitos. Ouso ainda dizer que mais coisas chegarão ao STF, para serem votados, que ferem totalmente os preceitos cristãos. Podemos chegar, inclusive, a votação do aborto sem qualquer precedente. Isso para não se falar das questões ecológicas, leis estão sendo criadas e votadas, abrindo precedentes enormes para a destruição do planeta em que vivemos.

Mas sou, e serei sempre, contra a simplificação de nossos problemas e mazelas sociais culpando o "governo corrupto" que está aí. Na verdade, ele é uma consequência das escolhas de um povo, que não deixa de ser, fruto de uma sociedade cheia de mazelas e problemas sociais...

"É melhor escolher os culpados do que procurá-los." (Heinrich Heiner)

Angela Rocha

Comentários

  1. Gostei da maneira como abrangeu o assunto. Penso como vc: imaginei a situação acontecendo comigo e conclui que tb não faria o aborto. Mas tenho ouvido várias opiniões e eu as respeito, dentro da interpretação e conscientização de cada um.

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