Dizem que jamais devemos nos arrepender do que
fazemos... E, sim, do que não fazemos. Tenho minhas teorias sobre isso... E uma
espécie de “ritual” que criei lá na minha adolescência.
Certa feita (legal essa?), quando eu tinha uns
quinze anos, comecei a namorar um primo de uma amiga minha. Estávamos lá
jogando vôlei na nossa rua (fiz isso, por incrível que pareça!), e de repente:
Virei meu pé! E o rapaz me socorreu. Como um príncipe encantado que vem em
socorro da donzela ferida, ele me carregou (era possível naquela época) e aí,
como mocinhos de uma história de amor começamos a namorar... parecia tão
romântico e a propósito.
Só parecia. Acrescento que durou pouco. Um pouco
que foi até demais. Isso porque ele era por demais meloso, pegajoso, grudento
mesmo. E eu comecei a desejar, com todas as minhas forças, que as férias dele
na casa da tia acabassem o mais breve possível.
E mais, de repente o jeito dele me parecia tão...
tão... “bicha”. Ou eu que passei a olhar pra ele com olhos preconceituosos, não
sei. Mas finalmente, para minha alegria,
ele voltou para Santa Catarina (nada a ver o estado com as tendências dele...).
Malgrado meu! A felicidade durou pouco... Ele começou a me escrever cartas. E
cartas chorosas, grudentas, melosas, sebosas. Onde demonstrava o grau de
“bicheza” dele ao extremo das alturas. O que ele queria comigo, uma mulher, não
faço a menor idéia...
Mas enfim... Fui agüentando o quanto pude. E,
óbvio, não respondi a carta alguma. Mas o rapaz era insistente. E um dia me
mandou uma carta pela prima que estudava comigo. Acontece que ela me entregou a
carta no ônibus em que voltávamos para casa. E insistiu que eu deveria ler e
dar uma chance pra ele. Abri o envelope ali mesmo no ônibus. Se era para ser
torturada, que fosse logo.
Abri... E a primeira coisa que aconteceu, foi cair
um quilo de talco perfumado no meu colo (daqueles mais fedidos que existem no
universo). Nunca vi na minha vida semelhante coisa. Quem, em sã consciência faz
isso? E como se não bastasse, junto, uma foto nossa. De um passeio que, hoje,
juro, nunca fiz! E se aquela era eu (e se houvesse photoshop em 1981), aquilo
só podia ser montagem! E o teor da carta? Nossa! Acho que li as duas primeiras
linhas e já tive ânsia de vômito. Não lembro o que estava escrito, e nem quero
lembrar, mas sei que odiei.
Aquilo foi o fim da picada. E depois de dizer a
minha querida amiga, que me fizesse o favor de mandar o primo dela para aquele
lugar, fiz o ritual definitivo para esquecer aquele namoro maldito.
Peguei as cartas, as fotos, tudo que pudesse me
lembrar daquele relacionamento desastroso, e piquei cada uma em mais ou menos
1.592 pedacinhos. Aí pus numa forma de alumínio e queimei. E foi com álcool
para a queima ser total e completa.
Então fui ao quintal (nosso quintal era enorme), achei um lugar onde
nunca mais eu ia saber achar, fiz um buraco de meio metro, e enterrei as
cinzas. Depois daquilo numa mais ouvi falar ou vi, o tal ex meloso e grudento,
que se chamava ....... Cruzes! Ainda lembro o nome dele!
Mas o meu ritual do “rasga-queima-enterra” fez com que eu me desligasse daquilo. Já se
passaram mais de trinta anos e, claro , ainda que me lembro do que aconteceu,
mas... E aí está a grande sacada: Como uma coisa para eu não repetir jamais!
Algo para, talvez, nem lembrar como acontecimento, que dirá com saudade...
Pois bem! Fiz este ritual mais duas vezes na minha
vida. Não com namorados, mas com pessoas que passaram por mim, e que teriam me
feito um favor enorme se tivessem virado uma esquina antes de me encontrar. E
devo dizer que foi mais fácil. Não precisei de recipiente, álcool, cavar
buraco, nem nada disso... Não havia nada físico para rasgar, picar, queimar e
enterrar. Não se enterram coisas virtuais. Mas rasguei, queimei e enterrei
DEFINITIVAMENTE, toda uma história que me incomodava, como se minha cabeça estivesse
sempre a espera da guilhotina da revolução francesa.
Há momentos em que precisamos enterrar os nossos
erros. Esquecer, acaba virando uma necessidade. Porque tem história que precisa
ser apagada. Para não doer. E para que ela não corra o risco de voltar é
preciso, no mínimo, um ritual do “rasga-queima-enterra”.
Simbólico ou não...
Do meu ritual de hoje, vou enterrar as cinzas na
floreira da minha janela. Quem sabe ali não acabe nascendo um dente-de-leão...
Ângela Rocha
angprr@uol.com.br
Que bom participar de seu blog e ler as coisa maravilhosas que você escreve. Bjs.
ResponderExcluirOlá, querida
ResponderExcluirEnterrar os erros é questão de sabedoria... Muito bom!!!
Bjs de paz e bem