Reencontro...


Fui tomada por uma nostalgia enorme hoje. Por uma saudade daquele tempo onde a gente se reunia mais para orar do que por qualquer outra coisa,  onde nos deixávamos tomar por um espírito de "equipe" que já não existe mais.  Onde doutrina era deixada para cursos mais elaborados e longos. Onde  se tocava e cantava pelo simples prazer  de estar junto falando de Jesus... Onde os encontros eram cheios de oração e espiritualidade.

Já participei de encontros onde fui convidada a desenvolver um assunto como a IVC, em 4 horas. Onde eu deveria esmiuçar as publicações a respeito, as sínteses, os resumos.  Muita coisa, muita coisa mesmo. E eu me via lutando contra o relógio e a falta de pontualidade para começar... E a pontualidade britânica para acabar.

Nem todos chegam na hora e faltando meia hora o povo começa a se levantar para ir embora. E não havia como orar. Aprendi um dia com Ir. Nery (na especialização em catequética) que a gente nunca faz um encontro verdadeiro para falar de Cristo que não comece ou termine com o Pai Nosso. É triste, mas, nem sempre consigo colocar isso em prática.

Eu só sei que fica muito a discutir, porque na hora das partilhas as pessoas querem ir embora. A gente mal consegue dizer o "vão com Deus" antes da sala se esvaziar. E, muitas vezes,  fazemos a leitura bíblica do início do encontro, só com metade das pessoas.

E apesar do bom feedback que recebo, elogios e agradecimentos por parte da coordenação e do padre... Sempre fica aquela sensação de faltou algo, que não há sugestões "práticas", coisas que se precisa rever, e momentos "fortes" de espiritualidade. Aí me bate essa saudade...

Porém, sou novata ainda, uma amadora. E minha "saudade" é pura "incorporação". Porque eu NUNCA vivi esse tempo! Nunca participei de verdadeiros encontros espirituais na catequese. Pelo menos não entre catequistas. Nunca fui a um retiro de catequese, nunca vivi um momento forte de espiritualidade "com" catequistas. Nunca tive momentos "para rezar" com meus colegas catequistas. É triste admitir que não conheço esses momentos celebrativos e querigmáticos, onde as pessoas não tenham pressa e possam colocar nesses instantes, seus medos, frustrações, dramas, tristezas, desafios, sonhos, ou simplesmente chorar sem nem ao certo saber por quê.

Esses momentos eu só conheci, por incrível que pareça, virtualmente. E posso afirmar sem titubear que sou muito mais amiga de catequistas pela internet do que ao vivo e a cores...

Num dos últimos encontros de formação que conduzi, depois de um ano inteiro de conteúdos e estudo de documentos,  coloquei momentos de silêncio, música, trocamos experiências, falamos mais de nós, fizemos uma troca de bênçãos, orações de mãos dadas. E no final, todos os catequistas presentes se espantaram porque o tempo naquele dia passou tão depressa e tudo foi tão "mais gostoso". E confesso que muitas vezes tenho vontade de esquecer o "script" que me deram e fazer "só" isso: aproveitar o momento em que estamos juntos. Para orar, para silenciar e sermos só, nós mesmos.

Não é fácil exercer o papel de "palestrante", de formador. Como formadores, esperam da gente uma bagagem de conhecimentos enorme, que precisa ser "despejado" na cabeça dos catequistas no pouco tempo que temos. Na verdade, os catequistas nem precisam ler os documentos da Igreja, porque sabem que, uma hora ou outra, vai alguém lá passar o "resumo" pra eles. E as formações viraram "chateações". Coisas do calendário  para se cumprir.

Sonho com o dia em que haja mais escuta, mais partilha, mais compromisso conjunto. Onde os encontros sejam aguardados ansiosamente e sem pressa para acabar, que oremos de mãos dadas e de corações "ligados". Porque é fácil pegar na mão sem sentir no coração.

E onde "saber da vida do outro", não seja fazer fofoca. Seja "se importar", ter compromisso em ser aquele que está ali para um abraço carinhoso num momento de tristeza. E que as palavras: colega, distância e formalidade; estejam só no dicionário, muito longe da nossa realidade.

Ângela Rocha


Comentários

  1. Angela seu depoimento (posso chamar assim?) é emocionante, por aqui nunca vivemos dessa forma,as pessoas gostam de coisas imediatas, tudo que é a longo prazo não interessa, dói em mim ter que viver assim. Essa sensação do "falta algo" também me persegue nos encontros de catequese, vivo me perguntando que diferença eu faço no meio em que vivo, se não fosse cristã, se não tivesse entendimento da real missão que tenho, algo seria diferente?

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    1. Andreía, penso que quando conseguirmos isso, qunado cosneguirmos simpelsmente "orar" juntos, teremos sanado todos os problemas que enfrentamos na catequese. Um beijão minha amiga!

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  2. Na realidade Ângela, a falta de espiritualidade não acontece somente na catequese. No mundo de hoje, as pessoas andam tão ocupadas que infelizmente as melhores coisas da vida passam desapercebidas.

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    1. Pois é Ivani... começa na família que sequer se reune mais para comer, que dirá para orar. Grande abraço!

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