Homilia do domingo

2º. Domingo do Tempo Comum – B

Hoje as leituras nos trazem um contexto vocacional. Deus sempre toma a iniciativa e nos chama. Deseja nos comunicar o seu amor, a sua proposta, deseja que nossa vida seja marcada pela sua. O Senhor é insistente e mantém sempre vivo o seu convite, como o fez com Samuel. Como o coroinha de Eli, podemos também tardar em escutá-lo ou não compreender a sua voz, pois nem sempre é tão reconhecível como as mensagens que estamos acostumados: Deus fala de modo discreto, além da necessidade de abertura e discernimento para escutar a sua voz. Certamente o Senhor fala em nossa oração pessoal, pela Palavra proclamada; fala no silêncio de nosso coração ou por intermédio das pessoas; algumas vezes nos fala pelos acontecimentos, dá-nos sinais de sua presença e de seu amor que por vezes são simplesmente desconsiderados. Um dia o Senhor nos chamou. Continua nos chamando pelo nome: Roberto, Tereza, Pedro, Maria, Daniel... Qual é o seu convite? O que Ele deseja hoje de mim e de você? Qual é o tom de sua voz?

Do chamado ou do anúncio, como aconteceu aos apóstolos pela indicação de João Batista, nasce o encontro, como eles mesmos anunciaram: “Encontramos o Messias!” Quando o Senhor se manifesta a nós, deseja que o experimentemos. O primeiro passo não é um oráculo exotérico, uma teoria filosófica ou teológica. Ao se revelar, Deus mantém uma relação de afeto, pois nos ama e somos seus filhos. Por isso, encontrar o Senhor é uma experiência que atinge nosso coração, o interior de nossas decisões, transforma nossas vidas. Ou nossa vida cristã é fruto de um encontro pessoal com o Senhor, ou será um cristianismo de preceito, ou ainda o seguimento de normas e prescrições vazias e frias como as talhas de pedras dos judeus.

Os discípulos foram até Jesus para conhecê-lo, por mandato de João Batista, e tiveram uma grande surpresa. Desejavam saber onde morava o mestre e tiveram uma resposta convidativa: “Vinde e vede!” Então permaneceram e andaram com Ele, mas não chegaram a casa nenhuma, pois o Rabi é um peregrino. Aqui há uma implicação fundamental para nós cristãos: conhecer o Senhor significa sair, não ficar parado, movimentar-se, peregrinar ao lado do Mestre. Não o encontraremos em um lugar fixo, mas nas experiências do dia a dia. Apenas o encontraremos se sairmos do nosso comodismo, se formos capazes de arriscar.

Do chamado nasce uma resposta, como soaram as palavras de Samuel: “Fala que o teu servo escuta!” O seu convite procura tirar-nos do lugar onde estamos. Deus nos chama para uma vida nova, que implica em reconhecer que a vida é mais do que os nossos olhos vêem, uma vida de quem não é dono de si mesmo, mas pertence ao Senhor, como nos diz São Paulo (2ª. Leitura).

Depois do risco de sair para ver onde está o Senhor, podemos permanecer. É preciso interpretar este convite com cuidado. Não é uma contradição ao primeiro movimento, pois, de fato, sempre estaremos peregrinos, a caminho. Permanecer não significa a estabilidade passiva, mas sim que dentro do caminho da fé é preciso ser constante e demorado. Não conheceremos o Senhor de uma hora para outra, pois Ele é um mistério. Por isso, é preciso dedicar tempo, dedicar energia, demorar em sua presença.

A lógica bíblica é simples: do convite amoroso brota um encontro vivo; de um encontro vivo, uma reposta livre; de uma resposta livre, uma vida nova; de uma vida nova, uma missão. Neste domingo você é convidado a meditar sobre o seu encontro pessoal com Jesus Cristo e sobre suas implicações. É chamado a meditar sobre sua vocação como batizado (a) e sobre o modo específico de desempenhar sua vida cristã. É ainda impelido (a) a ser um anunciador do amor derramado em seu coração pela graça do Espírito Santo na força renovadora da Páscoa, como os discípulos que não deixaram a experiência trancada dentro deles mesmos.

Continuamos sempre um pouco curiosos, querendo saber onde ele mora. O Mestre continua a nos surpreender, mostrando-se dos modos mais inusitados. Seu convite ressoa pelos séculos e atinge os nossos corações: “Vinde e vede!” A resposta fica por sua conta.

Bom domingo!

Pe. Roberto Nentwig

"Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força!”
 (2Cor 12,9).

Comentários

  1. Muito obrigado Pe. Roberto! Amanhã com os catequistas estaremos refletindo sobre a vocação de Samuel e dos primeiros discipulos. Na historia de Samuel é interessante o papel dos pais (a mãe Ana)e o sacerdote Elí (figura tb do catequista orientando para atitude melhor na oração. O plano dos pais não bate com o de Deus: Samuel vai ser profeta.. saindo do Templo! O estilo da oração: Fala, Senhor, teu servo escuta. Em geral somos nós que falamos e Deus tem que escutar!!! Sem duvida uma passagem VOCACIONAL bem preziosa! Um santo Domingo e obrigado Angela!

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    1. Pe.Giovanni, acho a passagem da vocação de Samuel um excelente subsídio para celebração catequética com as crianças... para o início da catequese. Normalmente os catequistas sempre ficam pensando o que fazer no primeiro encontro do ano... Por que não uma celebração com as crianças? Com canto apropriado, água benta, unção com óleo para envio... Rsrsrrs...já estou aqui divagando! Um abraço.

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