Homilia do domingo

4º. Domingo do Tempo Comum – B

Neste domingo, o Evangelho nos apresenta o relato de um exorcismo. A expulsão do demônio aparece com certa frequência nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. Isto revela que os judeus acreditavam que os espíritos demoníacos eram criaturas capazes de atormentar o ser humano, causando-lhe males, embora a Bíblia insista na liberdade de cada pessoa ao escolher entre o bem e o mal.

Os exorcismos causam muitas disputas teológicas que não cabem aqui serem explicitadas. A verdade é que tais relatos causam até hoje interpretações equivocadas e alimentam o imaginário das pessoas. Assim, não é raro que o diabo dê até mesmo entrevista nos mega-shows televisivos dos marqueteiros da fé. Banaliza-se o mal, esquiva-se com facilidade da responsabilidade livre da pessoa, deixando a cura a cargo de u m rito mágico operado por um padre ou ministro. Tentemos, pois, fixarmo-nos nos ensinamentos que se aplicam a nossa vida a partir do relato do Evangelho de Marcos.

A primeira coisa que nos chama a atenção é que Jesus não ensina como os mestres da lei, mas sim como quem tem autoridade. O significado latino do termo é fazer crescer. Portanto, quem tem autoridade não é aquele que manda e que impõe a sua vontade mesmo que não haja razoabilidade. A autoridade não é a voz agressiva de cunho moralista. A autoridade não é algo simplesmente instituído por um papel social (chefe, político, pai, padre, comandante...), mas algo que se deixa transparecer de modo espontâneo daquele que verdadeiramente a tem. Assim, Jesus tem uma autoridade autêntica, pois sua vida fala mais do que suas palavras, porque o seu modo de ser já faz prevalecer a sua vontade. Deus não é um dominador despótico. Do mesmo modo, nenhum de nós deverá sê-lo.

Quando Jesus se apresenta na sinagoga, manifesta-se a voz do espírito mau. Ou seja, diante de Deus nada fica escondido. Diante de Jesus, não pode haver máscaras, artimanhas, fugas... O Senhor faz brotar a verdade de cada um: primeiramente a bondade que existe em cada coração; depois, também as sombras, os males, as incongruências que navegam no subterrâneo de cada pessoa. Os psicólogos irão concordar que apenas poderemos curar e nos libertar daquilo que reconhecemos, o que for manifesto. Tudo aquilo que é negado ou escondido será causa de dor para nós mesmos e para os outros. O que é varrido para debaixo do tapete, mais cedo ou mais tarde vem a tona com força. Por isso, hoje o Evangelho é um convite para a sinceridade consigo mesmo. Um convite para que destruamos as máscaras e encaremos os demônios que nos atormentam. Antes de serem expulsos de modo imediato, deverão ser reconhecidos, aceitos e integrados.

Percebemos ainda no relato que o espírito mau dese ja ter poder sobre Jesus. Por isso, ele sabe quem é o Messias, diz seu nome, diz quem Ele é. Na Bíblia esta manipulação do nome denota uma espécie de poder sobre a pessoa. Por isso, Jesus diz: “Cala-te!” O espírito não pode falar, pois não tem este poder. O verdadeiro poder está na Palavra do Senhor. Hoje sua Palavra é proclamada com a mesma força. Há algumas vozes equivocadas: aquelas que procuram submeter a vontade de Deus a nossa vontade, aquelas que banalizam a graça divina, aquelas tentam manipular a Palavra de Deus. Todas estas vozes, que se opõe ao verdadeiro Senhor, devem ser caladas. Estes espíritos não podem ficar aqui nos atormentando. É preciso reconhecê-los e deixar que Deus os exorcize com sua Palavra de autoridade.

São Paulo traz à evidência um mal que precisa ser exorcizado – a preocupação. Seus conselhos não desejam privar as pessoas do casamento, mas sim advertir sobre o perigo de que as coisas da vida atormentem os corações. Hoje, a correria, a busca desenfreada pelo dinheiro e até as coisas banais do cotidiano pode nos trazer preocupações em demasia. Podem nos pre-ocupar, ou seja, ocupar antes. Devemos nos responsabilizar pela vida, cuidar do que é nosso dever, mas não devemos deixar que a vida nos oprima. Relativizemos o tempo e as coisas, deixando tudo nas mãos daquele que cuida de tudo.

A luta entre Jesus e os espíritos demoníacos traz uma verdade importante. A instauração do Reino de Deus tem como um dos principais sinais a vitória sobre o mal e o pecado. No fim dos tempos, haverá início de um novo tempo, quando o mal não terá poder algum, quando o pecado, com suas astúcias, e o sofrimento serão banidos. Miramos este tempo e dizemos: “Maranatha! – Vem!” Mas enquanto não chega, procuremos fazer este Reino acontecer em nossa vida ao nosso redor: em nossos trabalhos, em nossas relações, no nosso cotidiano. Não deixemos que o poder dos espírit os do mal nos escravize e nos jogue na infelicidade. Deixemos, sim, a voz do Senhor banir tudo isto para que reine a paz em meio aos conflitos.

Pe. Roberto Nentwig

“Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força.”
(2Cor 12, 9)

Comentários

  1. Oi minha querida!

    Gostei bastante dos pensamentos e interpretação do Roberto.

    Beijos,

    Vívian

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