A catequese tem que ser "diferente"!


Outro dia recebi um e-mail de uma catequista pedindo ajuda para um grupo de perseverança da Paróquia... Os jovens se sentem desanimados e o grupo está prestes a acabar.

Como ela, não sei muito de lidar com jovens. A experiência que tenho é a de lidar com meus três filhos. E não considero que tenha tido lá muito sucesso. Nenhum dos três é frequentar a Igreja. O mais novo, participou um ano da catequese da crisma, aos trancos e barrancos. E ia porque, como ele dizia: "Vou porque amo você Mãe e porque a catequista é muito legal!”.

Bom, considero isso uma vitória, pois ele, assim como os outros, tem valores cristãos (apesar de negarem que isso seja ser cristão!), não frequentam a Igreja, mas são jovens maravilhosos e conscientes. Não bebem, não fumam, respeitam o próximo, os pais e são muito amorosos. Honestidade, caridade, fraternidade faz parte da vida deles. E isso me leva sempre a questionar: O que os afastou da Igreja?

Eu estou sempre lá, a ponto de brincarem comigo e me chamarem de "beata". Então o que aconteceu? Falta de exemplo? No meu caso considero falta de "atrativo" por parte da Igreja. Eles não conseguiram se “achar” lá. Na verdade esse afastamento foi uma das coisas que me levou à catequese. Afinal, por que meus filhos não gostaram da catequese? E assim resolvi encarar o negócio. Fui ser catequista.

E uma das coisas que fui aprendendo é fazer uma catequese “diferente”. Descobri muito material e dinâmica lendo e pesquisando na internet. Só que é preciso, sempre, fazer algumas adaptações. E também temos que respeitar os itinerários construídos pela paróquia.  Mas percebi ao longo do tempo que simples encontros, com temas pré-estabelecidos, chateia as crianças. Mas mesmo respeitando aquilo que a paróquia e a coordenação planejou, é possível fazer muita coisa “concreta” para transformar a catequese em verdadeiros “encontros”.

Por exemplo, quando falamos da Páscoa Judaica, fomos procurar, pesquisar mesmo, na Bíblia e na história, como, por que e quantas pessoas, Moises tirou do Egito; como foi a peregrinação no deserto, etc. Mas em ritmo de conversa de interesse. Para isso sentamos embaixo de uma árvore no pátio da Igreja e enquanto íamos conversando sobre o assunto, CONVERSANDO mesmo, comemos pães ázimos, carne de cordeiro  e mastigamos ervas amargas. A experiência foi ótima, pois nos sentimos como aquelas famílias, apreensivas, com  medo do que ia acontecer... E com isso surgiram outros assuntos, outros medos e anseios dos dias de hoje: insegurança, relacionamento da família, etc.

E quando falamos de Abraão e da confiança que ele tinha em Deus - a ponto de partir sem saber direito pra onde ia - simplesmente vendamos nossos olhos e confiamos num outro guia que nos levou por corredores, escadarias, pedregulhos, portas, ruas, calçadas. E depois falamos sobre nossa experiência ao não enxergar nada e ter que confiar em outra pessoa para nos guiar. E novamente vieram as experiências cotidianas das crianças, a família, etc. Ao final do encontro brincamos de cabra-cega no pátio da Igreja, foi muito divertido. Por que isso não pode ser feito sempre? Brincar é uma coisa muito saudável!

Lembro de um encontro em que tinha que falar de Responsabilidade e Compromisso. E usei a construção da nova igreja, que está sendo construída para abrigar um número maior de fiéis, como tema da conversa. Um dia levei todos até o subsolo na construção, onde vai ser o estacionamento e cada um de nós escreveu seu nome num dos pilares da construção. Fiz a seguinte analogia: cada um de nós de uma forma ou de outra ajuda a construir a Igreja, e não só fisicamente. Quando contribuímos com o dízimo ou com qualquer outra oferta, com nosso serviço, a Igreja vai se construindo, vamos nos tornando a base da comunidade. No futuro, nossos filhos e netos serão sustentados por estas bases. Imagine você a carga de responsabilidade que cada um tem. Resultado: eles começaram a encarar a Igreja com outros olhos. O mestre de obras da construção até demorou a ter coragem para passar o reboco encima dos nossos nomes.

Encenações para a comunidade e para outros grupos, são também uma maneira excelente de fazer catequese. Mesmos que nem todos tenham dons artísticos, isso une muito o grupo. Sempre invento alguma coisa para apresentar na missa. Seja encenação do evangelho ou algo especial para os pais. Instigue, agite os jovens, faça-os sacudirem a comunidade. Sabe aquela música do grupo Rosas de Saron, "Anjos de rua"? Fala de crianças abandonadas nas ruas, prostituição, fome, abandono. Porque não fazer uma apresentação de dança com ela? Mostrar a comunidade como somos insensíveis com o nosso próximo. Ou então fazer uma apresentação com ela no próximo encontro de pais.

E LER as cartas de São Paulo? São mensagens maravilhosas. Mas é preciso ler e entender, visualizar o contexto histórico em que Paulo vivia; em que Lucas escreveu os Atos, enfim... Ache alguém que saiba o lado histórico, que saiba um pouco daquilo que não está escrito, que conte para os jovens como se estivesse contando uma história de vida! Nossa! Como isso pode se tornar uma riqueza para eles.

Sem contar que hoje temos um aliado poderoso. Que muitos até, consideram inimigo: a internet. Digamos que hoje essa é a “praia” das crianças e jovens. Mais até do que a nossa. Mas a internet pode ser usada como uma ferramenta. Por que não propor aos adolescentes criar um “blog” da turma? Ou criar um grupo no Facebook pra trocar idéias? Existem inúmeras ferramentas a disposição. Basta usar a criatividade. A gente vê muita página de paróquias e pastorais na internet, abandonadas porque não tem quem as alimente. E os catequizandos? Não poderiam colaborar?

O segredo é inovar, inventar coisas sempre. Os jovens de hoje precisam fazer o que gostam. Sentar numa salinha de reuniões e ler a Bíblia? Muito bonito! Mas não funciona na prática. É preciso envolvê-los! Na catequese de Crisma, na de Primeira Eucaristia, nas missas... Faça-os se sentirem úteis. Faça com que as idéias partam deles. Apóie as iniciativas e a criatividade deles. Pode, às vezes, parecer difícil fazer alguma coisa. O padre pode até não concordar com essas coisas “diferentes”. Mas, encha o "saco" (perdoe a expressão) do pároco até ele concordar. Depois, os resultados serão compensadores.

Fórmulas mágicas não existem. Existe sim, muita criatividade, e isso, os jovens têm de sobra. Basta que a gente dê um empurrãozinho!

Ângela Rocha

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