Homilia do Domingo


 4º. Domingo da Quaresma – B

A primeira leitura descreve a ruína do povo diante do exílio: destruição do templo, das casas, das construções...  Mais do que isso: destruição da dignidade outrora ferida pela humilhação da escravidão.  Deus cuidava daquele povo com muito carinho, mas depois da infidelidade, vieram as consequências de suas opções.

Todos vivemos estes momentos de perseguição, destruição e exílio. São ocasiões em que nos sentimos verdadeiramente perdidos, sem saber o que fazer. Por vezes, tais situações são causadas pelas nossas escolhas, mas também podem ser fruto da maldade alheia. Às vezes não há culpados, pois a situação de exílio é simplesmente algo inerente a nossa condição humana. O exílio vem e nos assalta como um império destruidor.

O Evangelho nos dá a resposta. Nenhuma maldade poderá prevalecer, nem os imperialismos, nem o egoísmo presente nos corações, nem o orgulho dos poderosos. E a razão é simples: a última palavra da história é a vitória do Senhor sobre mal, sobre o pecado e sobre a morte. Ele ama os seus e enviou o seu filho único para que tenhamos a vida.  Por isso, devemos alimentar a certeza de que nada poderá nos destruir. Pode haver a destruição dos templos construídos por mãos humanas, mas jamais o verdadeiro corpo será destruído: o corpo ressuscitado do Cristo, bem como todos os corpos ressuscitados por Ele.

A vida doada por Jesus é o grande sinal. Muito mais do que aquela serpente que havia sido levantada no deserto para curar o envenenamento dos israelitas, a cruz é o sinal da vitória sobre o veneno do pecado, sobre o veneno do ódio que provocou inclusive a morte de Jesus. Jesus combate o desamor com o amor. Por isso sua cruz é redentora.  Não se resume na quantidade de sangue derramado, mas nas suas opções que o levaram a morte e na sua vitória definitiva sobre o mal. Seu amor não tem preço, não pode ser comprado por nenhuma virtude humana. Deus se oferece, é puro dom, uma graça (segunda leitura).

Nós hoje somos convidados a seguir os passos de Jesus que deu a sua vida, que se ofereceu como Dom. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos (Jo 3,15). Escolher uma vida de abertura ao outro, de renúncia pelos outros, abraçar a cruz da doação é ter a vida a luz e a salvação.

A quaresma é o tempo de meditar diante da cruz. Quais foram as escolhas de Jesus? O que o conduziu a morte? O caminho dele é o nosso caminho. Portanto: como temos abraçado a nossa cruz do dia a dia? Como realizamos as nossas escolhas? Quando somos capazes da renúncia? O que em mim pode morrer por amor? Amar é uma escolha, mas exige abrir-se, sair de si mesmo.

O Evangelho de hoje é o diálogo entre Nicodemos e Jesus. Nicodemos foi até Jesus de noite, pois estava com medo de ser questionado pelos demais membros do Sinédrio. Se é verdade que experimentamos o exílio, também experimentamos, como Nicodemos, momentos de escuridão: o escuro da alma, as trevas. Por isso, Jesus se revela como a luz que deixa tudo claro. Ele revela a verdade de cada ser humano e a verdade última de nossa humanidade: sua luz é o convite para nascer de novo e acolher seu amor derramado na cruz.

O dom de Deus se realiza no presente de nossas vidas. A vida para Deus é puro dom – dom da Cruz, dom da Salvação, da Palavra e da Eucaristia. Que o dom de Deus faça também a nossa vida um dom.

Pe. Roberto Nentwig

"Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força!" (2Cor 12,9)

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